quarta-feira, 24 de março de 2010

Semana Santa em Safara/ Moura



Na memória das pessoas mais antigas temos registos que nos levam aos anos de 1800 e tal como tendo sido formada a irmandade do santíssimo, detentora de forais administrados por um cidadão a que se dava o nome de juíz. Este cidadão tinha a responsabilidade de convocar toda a irmandade através de um toque especial dos sinos quando as verbas prevenientes do pagamento dos forais permitia a realização das cerimónias da Semana Santa ou Endoenças. Durante muitos anos estas celebrações estiveram sem se realizar. Na década de 60 do século passado, um grupo de cidadãos descendentes directos e indirectos da irmandade decidiu levar por diante a realização das festas das Endoenças. De então para cá, de dois em dois anos os Safarenses vivem de um modo profundo e respeitoso aquilo que foi a paixão, a morte e ressurreição de Jesus de Nazaré "Cristo".

Passamos às cerimónias, elas têm inicio no Domingo de Ramos com a benção dos Ramos e procissão da Capela de Santa Ana até à impunente Igreja Matriz, construída por volta de 1602. Tal como jesus fez na quinta feira Santa, lavando os pés aos discipulos, também esta cerimónia é realizada com todo o simbolismo, sendo, os discipulos representados por 12 idosos, acompanhados por igual número de irmãos, sendo, a figura de Jesus representada pelo Paroco da terra, decorrendo a cerimónia tal como à 2010 anos. Decorrem de seguida algumas cerimónias religiosas que culminam com a guarda do Santíssimo, que decorre durante toda a noite, levada a cabo por dois irmãos que são rendidos de hora a hora. Na noite de quinta feira Santa, tal como aconteceu à 2010 anos, em que Jesus andou de Herodes para pilatos, nós assinalamos estes factos com a realização de uma procissão com a imagem de Jesus preso a uma coluna e que percorre algumas ruas da terra à luz de Archotes, visto a luz eléctrica estar desligada nas ruas da terra.
Aproveitando a escuridão da noite e depois de terminadas as cerimónias religiosas e enquanto todos os panamentos da igreja passam de vermelho para preto, quatro irmãos retiram em silêncio a imagem de Jesus com a cruz aos ombros e conduzem-na da Igreja Matriz para a Capela de Santa Ana.Sexta feira Santa duas procissões partem, uma da Igreja Matriz com a imagem de Maria e outra da Capela de Santa Ana com a imagem de Jesus com a cruz às costas. Estas duas procissões váo ao encontro uma da outra, o que acontece num ponto determinado da rua de Santa Ana (lugar do encontro). Realço que os homens que tranportam os andores vêm vestidos como outrora e, por isso, têm o nome de cocas do Senhor e cocas da Senhora, os irmãos vestem opas roxas. Enquanto a imagem de Nossa Senhora vem acompanhada pelo Clero e pelo Povo, a imagem do Senhor vem acompanhada por Maria Madalena, estandartes romanos e pela música, como os Romanos faziam quando conduziam alguém para o Calvário. Neste ponto de encontro, o padre pregador recorda ao povo todo o sofrimento do senhor e o que levou a esta situação e relembra que ao ver este sofrimento, houve quem tentasse aliviar esse sofrimento, a Verónica, a quem chamamos Padeirinha, que veio limpar o rosto do senhor com o avental com que estava a amassar o pão, ficando, o rosto gravado nesse panoque ela mostra enquanto canta em latim "o vos ommes qui transitis per vian, attendite et vedete si est dolor si cut delor meus".

Termina esta dolente e linda melodia e as procissões seguem juntas para a Igreja Matriz que simbolicamente é o lugar do Calvário, onde já está Jesus crucificado e onde irão ter lugar várias cerimónias: descida da cruz
do corpo do Senhor por Nicodemos e Zé de Arimateia, vestidos a rigor como à 2010 anos, Maria Madalena recebe o corpo de Jesus e vai depositá-lo no esquife. Durante estas cerimónias a Padirinha e as Três Marias vão cantar mais duas vezes. À noite realiza-se a procissão do enterro do Senhor com a imagem de Jesus dentro do esquife, todos os irmãos vestem opas pretas. Nesta procissão, a Padeirinha e as Três Marias cantam em lugares pré-destinados. Com o regresso da procissão à Igreja Matriz procede-se ao enterro do corpo do Senhor no tumulo, enquanto o Pregador mostra o Sudário e explica que aquele pano foi o que envolveu o corpo do Senhor, tendo ficado gravada a imagem do mesmo nesse pano Sagrado.
Sábado à noite as cerimónias religiosas decorrem na Igreja onde o ponto alto é o anuncio da ressurreição do Senhor. Os irmãos iniciam as cerimónias com opas pretas e terminam com opas brancas, as mesmas que irão vestir na procissão gloriosa de Domingo de Páscoa . Termina assim em alegria uma semana de recordações que nos deve levar a pensar profundamente na vida. Como nota final de realçar a presença em Safara de um Homem Público Notável e que também é Padre Franciscano e que se apaixonou pelas festas e por esta terra e seu povo, desde que nos visitou pela primeira vez na década de 60 do século passado, o senhor Padre Vitor Melicias.
Visitem Safara e apreciem as cerimónias lindissimas que aqui se realizam.

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