sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Procissão do Senhor dos Passos - Alenquer


Sempre vai haver Procissão do Senhor Morto em Faro


A Câmara de Faro e a Santa Casa da Misericórdia chegaram a acordo para que este ano, na Sexta-Feira Santa, volte a haver a Procissão do Enterro do Senhor Morto, uma das mais importantes manifestações religiosas da capital algarvia.
A procissão chegou a estar em risco devido ao estado de degradação da Igreja da Misericórdia, que o provedor Candeias Neto temia poder colocar em perigo os fiéis que participassem, uma vez que o cortejo religioso sai dessa igreja situada no centro da cidade de Faro.Defendendo o interesse público e o valor patrimonial da Igreja da Misericórdia, o Município de Faro decidiu, em Dezembro passado, aprovar um protocolo de apoio à recuperação daquele templo religioso no montante de 100 mil euros, «substituindo-se desta forma ao Estado que tinha a obrigação de preservar aquele imóvel classificado, mas que até ao momento ainda não se pronunciou», salientou a Câmara farense em comunicado.Este compromisso da autarquia parece ter levado a Santa Casa da Misericórdia de Faro a recuar na sua decisão de este ano não promover a procissão.Em comunicado, o presidente da Câmara José Apolinário veio esta terça-feira «reconhecer publicamente o esforço e empenho da Santa Casa da Misericórdia de Faro na prossecução das condições necessárias à realização da Procissão do Senhor».Na mesma nota, a Câmara «agradece a todos quantos contribuíram para a realização da Procissão do Senhor convidando todos os moradores da Baixa de Faro, por onde este ano vai passar a Procissão, a engalanarem as suas varandas e janelas, colocando colchas e mantas, contribuindo desta forma para embelezar ainda mais o percurso e engrandecer esta tradição dos farenses e da Capital do Algarve».A Procissão do Senhor Morto realiza-se na Sexta-Feira Santa, em Faro, saindo da Igreja da Misericórdia às 21 horas e percorrendo depois as principais ruas da Baixa da cidade.A procissão junta milhares de pessoas em Faro, constituindo uma das maiores manifestações sociais e de fé do Algarve, sendo uma das mais antigas e participadas tradições da sociedade farense. As celebrações da Semana Santa em Faro remontam a 1678. Ressalta pela sumptuosidade a Procissão do Enterro do Senhor, celebrada na noite de Sexta-Feira Santa, para a qual as ruas são ricamente decoradas, evocando a paixão de Cristo. Esta Procissão é uma das maiores do Algarve e a mais imponente que se realiza em Faro. Representa a morte e enterro de Jesus Cristo e o cortejo que os Romanos Lhe fizeram até ao sepulcro.Caracteriza esta procissão aquilo a que se chama o seu ecumenismo: toda a gente, seja qual for o seu credo religioso, a aceita bem, sendo milhares as pessoas que participam ou assistem.A procissão sai da Igreja da Misericórdia, pelas 21h00, aberta por um friso de tochas. Segue-se a matraca, cujo som áspero que se ouve ao longe, simboliza as ondas de ódio amontoadas pelos Judeus à volta de Cristo. A certa distância vem o guião ladeado por duas lanternas. Alguns metros desviada, a iniciar as alas as balandraus com tochas, a cruz com o lençol pendurado. Entre as alas, o tumbinho carregando o Corpo de Cristo, debaixo do pálio.Seguem a procissão, o clero, todo vestido de negro, as entidades oficiais, representantes de várias instituições e alas intermináveis de “promessas”, composta por uma imensidão de homens e mulheres e, no meio, os três andores. São várias as entidades que se costumam associar a este procissão, nomeadamente a Câmara Municipal de Faro, o Motoclube de Faro, os Bombeiros Municipais e os Bombeiros Voluntários de Faro, Protecção Civil Municipal, Escuteiros de Portugal e a Cruz Vermelha.
24 de Fevereiro de 2009 19:28
barlavento

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Semana Santa mantém viva tradição e inova com espectáculo de rua

Foi apresentado na Sala do Cabido da Sé Catedral de Braga o programa para a Quaresma e Semana Santa de 2009.

A encenação dramática do encontro da Senhora das Dores com o Senhor dos Passos é a inovação do programa deste ano da Quaresma e Solenidades da Semana Santa de Braga, apresentado ontem na Sé. Ao espectáculo de rua “Procissão dos Lírios” juntam-se seis concertos e seis exposições, numa programação que «mantém vivos os essenciais actos celebrativos» desta tradição multissecular.
O presidente da comissão organizadora aproveitou para lamentar a falta de apoio de «órgãos decisórios superiores, em regra distantes de Braga». Para o cónego Jorge Coutinho, a cidade e a população de Braga mereciam mais consideração.
Segundo aquele responsável, o espectáculo do dia 21 de Março constituirá «um momento de grande emoção e beleza teatral e religiosa». A encenação será protagonizada pelo Grupo Gólgota, dirigido pelos Padres Passionistas de Santa Maria da Feira, num total de 85 actores e figurantes.
No espectáculo, que terá lugar entre a Praça do Município e o Largo do Paço, os andores da Senhora das Dores e Senhor dos Passos serão cobertos de lírios brancos e roxos.
O cónego Jorge Coutinho sublinhou que o programa alia a cultura à celebração da Fé, uma dupla faceta que nada tem de folclórico. «Ao contrário de algumas críticas que falam de uma Semana Santa folclórica, a comissão entende que as duas facetas são modos diferentes, mas ambos pertinentes, de celebrar a Fé e de fazer evangelização», sustentou.
Programa orçado em 155 mil euros
A Semana Santa vai custar cerca de 155 mil euros, um valor que a comissão espera cobrir com «esforço financeiro», patrocínios e donativos. O cónego Coutinho lembrou que a cidade é a grande beneficiária deste investimento, que se traduz numa grande afluência de turistas e na dinamização do comércio, concretamente da hotelaria e restauração.
Do programa, Jorge Coutinho destacou a oratória “Paulus”, de F. Mendelssohn-Bartholdy, a executar na Sé a 7 de Abril, pelo Coro da Sé do Porto. Com este concerto, a comissão faz a ligação da Semana Santa com o Ano Paulino em curso.
A exposição itinerante, iniciada em 2008, vai continuar, devendo chegar a outras cidades do país e à Galiza. A realização de um concurso de fotografia sobre a Semana Santa é outra das novidades. A iniciativa está a ser preparada com o apoio da Fnac de Braga.
A imagem das Solenidades da Quaresma e Semana Santa 2009, que se iniciam a 25 de Fevereiro com a abertura do Lausperene, tem como motivo central um queimador, do qual surge um efeito luminoso em forma de cruz.
O trabalho desenvolvido pela “Paleta de Ideias” simboliza o lado positivo do mistério da Cruz de Cristo, «que transformou as trevas do mal e da morte em luminosa esperança de ressurreição e glória».
Este ano a comissão vai reforçar a decoração de rua, sobretudo nas artérias onde passam as procissões. Esse reforço será visível nas ruas D. Afonso Henriques, Frei Caetano Brandão e Largo Paulo Orósio. Na Arcada serão colocados novos motivos decorativos.
Comboios especiais
À semelhança do ano passado, a CP deverá fazer um serviço especial de comboios entre Porto e Braga, concretamente nos dias em que se realizam as procissões dos Passos, do Ecce Homo e do Enterro do Senhor. A vereadora do Turismo da Câmara de Braga adiantou que no ano passado, o serviço especial da CP transportou 3500 passageiros.
Ana Paula Morais destacou a importância da Semana Santa como produto do turismo religioso e garantiu o apoio financeiro e logístico da Câmara de Braga.
Refira-se que a comissão organizadora é composta por três entidades religiosas (Cabido da Sé, Irmandade de Santa Cruz e Irmandade da Misericórdia) e três civis (Câmara de Braga, Associação Comercial e Entidade Regional do Turismo do Porto e Norte de Portugal), a que se juntam a paróquia e Junta de Freguesia de S. Victor.


Marta Encarnação

Diário do Minho

Procissão dos Passos - Ovar



A irmandade dos Passos foi fundada em 1570 ou 1572. Uma das mais importantes finalidades da irmandade dos Passos era o acompanhamento dos confrades à sepultura. Antigamente fazia-se a Procissão dos Passos de Cristo, sendo cada passo representado por figuras de palha em capelas portáteis.
Entre os fins do séc. XVIII e até 1826 a Procissão dos Passos deixou de se fazer, e de 1826 até 1964 foi realizada ocasionalmente. Em 1964 constitui-se uma comissão tornando a realizar-se esta procissão.
No sábado à noite a imagem da Nossa Sra. da Soledade é conduzida processionalmente da capela do Calvário para a de Sto. António.
No domingo após o sermão do pretório sai da igreja a Procissão dos Passos e da capela de Sto. António a Procissão do Encontro onde sai a Senhora, antigamente era da capela de São Tomé, da Capela de Sto António, e dirigia-se para o passo do encontro, chegando aí ao mesmo tempo que o andor dos Passos que marchava em sentido oposto encontrando-se e seguindo depois para a capela do Calvário.
As diferentes capelas do Calvário encontram-se expostas, durante o dia, para a adoração dos fiéis, ornamentadas com elegância.
O Cântico da Verónica era ouvido no dia da procissão dos Passos e na sexta-feira Santa. No dia dos Passos cantava-se duas vezes, na igreja após o sermão e no Passo da Verónica. Havia também as Verónicas que cantavam na escadaria da igreja e em todos os Passos. Enquanto cantava a Verónica ia desdobrando um pequeno sudário, onde estava pintado o doloroso rosto de Jesus. O último está guardado na Casa Museu da Ordem Terceira e continua a sair na Procissão do enterro do Senhor, à noite em frente à imagem de Nossa Sra. das Dores, transportado por um menino.
Esta procissão é das mais antigas e majestosas da cidade de Ovar, compõe-se de dois andores o do esquife do Senhor e de Nossa Sra. da Soledade. A sepultura de Cristo faz-se na capela do Calvário, seguindo o andor de Nossa Sra. para a igreja.
Até 1828 realizava-se o auto do Descimento da Cruz, seguindo-se o enterro do Senhor, findando o trajecto da Procissão no Calvário. A imagem do Senhor era passado do esquife para um caixão que era depois metido numa cova aberta no chão areento e mais tarde sepultado na sacristia.
Segundo João Leite de Vasconcelos reza uma anedota a este respeito, que os vareiros enterravam o Senhor na areia: "armaram um andor em que ia uma imagem de Cristo, feita de roca, vestida de palha e enfeitada. Quando ia a procissão sobreveio uma tempestade em meio de um areal. Todos fugiram e o andor ficou desamparado na areia. Entrementes passou um burro, que cheirando-lhe a palha da imagem, a comeu, deixando esta quase soterrada na areia".

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Procissão do Enterro de Faro cancelada

A Santa Casa da Misericórdia de Faro veio informar, com “profunda tristeza”, através de comunicado enviado à redacção da FOLHA DO DOMINGO, que este ano não será promovida, “por questões de segurança”, a tradicional Procissão do Enterro do Senhor que anualmente tem lugar na noite de Sexta-feira Santa. Em causa está o estado de degradação da igreja da Misericórdia de Faro onde se inicia e se conclui o cortejo litúrgico que percorre as principais artérias da capital do Algarve.
Segundo a Santa Casa da Misericórdia de Faro, a tomada de posição foi decidida por unanimidade pela sua Mesa Administrativa, pelo capelão da instituição e pelo Moto Clube de Faro, principal organizador da iniciativa, a segunda de maior expressão realizada no Algarve logo a seguir à de Nossa Senhora da Piedade (Mãe Soberana). A instituição adianta ainda que a decisão foi fundamentada tendo em conta as conclusões do estudo preliminar levado a efeito pela empresa Oz - Diagnóstico, Levantamento e Controlo de Qualidade em Estruturas e Fundações, Lda. sobre as anomalias existentes na igreja da Misericórdia. O documento informa ainda que, no ano transacto, se efectuaram “várias diligências no sentido de se realizarem obras de manutenção e restauro do edifício” depois da última intervenção levada a cabo em 1997 pela própria Santa Casa da Misericórdia. “Efectuámos no final de 2007 uma candidatura de apoio financeiro, no âmbito do Programa Equipamentos Urbanos de Utilização Colectiva. Infelizmente, e apesar do que nos foi prometido, chegámos ao final do ano de 2008 e nada se concretizou”, lamenta a instituição, lembrando que, “por se tratar de edifício classificado pela Direcção Regional de Cultura, quaisquer obras de reabilitação exigem autorização superior”. Sem a desejada comparticipação do Estado que seria complementada com o apoio da Câmara de Faro, ficando o restante valor a cargo da própria Santa Casa, a instituição informa que irá proceder ao encerramento ao culto da igreja da Misericórdia em Faro, por “motivos de segurança”, “enquanto as obras de conservação e restauro não se realizarem”.


Fonte: Folha do Domingo

sábado, 7 de fevereiro de 2009

As Cinco Chagas de Cristo



Celebra-se hoje, este ano a 61 dias para a Semana Santa, dia 7 de Fevereiro, o culto das Cinco Chagas do Senhor, isto é, as feridas que Cristo recebeu na cruz e manifestou aos Apóstolos depois da ressurreição. Este foi sempre uma devoção muito viva entre os portugueses, desde os começos da nacionalidade. Disso testemunham a literatura religiosa e a onomástica referente a pessoas e instituições. Até Camões canta esta devoção tão Portuguesa, que, tradicionalmente, relaciona as armas da bandeira nacional com as Chagas de Cristo: «Vede-o no vosso escudo, que presente / Vos amostra a vitória já passada, /Na qual vos deu por armas e deixou / As que Ele para si na Cruz tomou.» (Lusíadas, 1, 7).Esta é uma festa litúrgica portuguesa e do mundo português que nos foi concedida pelos Romanos Pontífices, a partir de Bento XIV.


LEITURA I Is 53, 1-10

Foi trespassado por causa das nossas culpas»(Quarto cântico do servo do Senhor)

Leitura do Livro de Isaías

Quem acreditou no que ouvimos dizer?A quem se revelou o braço do Senhor?O meu servo cresceu diante do Senhor como um rebento,como raiz numa terra árida,sem distinção nem beleza para atrair o nosso olharnem aspecto agradável que possa cativar-nos.Desprezado e repelido pelos homens,homem de dores, acostumado ao sofrimento,era como aquele de quem se desvia o rosto,pessoa desprezível e sem valor para nós.Ele suportou as nossas enfermidadese tomou sobre si as nossas dores.Mas nós víamos nele um homem castigado,ferido por Deus e humilhado.Ele foi trespassado por causa das nossas culpase esmagado por causa das nossas iniquidades.Caiu sobre ele o castigo que nos salva:pelas suas chagas fomos curados.Todos nós, como ovelhas, andávamos errantes,cada qual seguia o seu caminho.E o Senhor fez cair sobre ele as faltas de todos nós.Maltratado, humilhou-se voluntariamentee não abriu a boca.Como cordeiro levado ao matadouro,como ovelha muda ante aqueles que a tosquiam,ele não abriu a boca.Foi eliminado por sentença iníqua,mas, quem se preocupa com a sua sorte?Foi arrancado da terra dos vivose ferido de morte pelos pecados do meu povo.Foi-lhe dada sepultura entre os ímpiose um túmulo no meio de malfeitores,embora não tivesse cometido injustiçanem se tivesse encontrado mentira na sua boca.Aprouve ao Senhor esmagá-lo pelo sofrimento.Mas se oferecer a sua vida como sacifício de expiação,terá uma descendência duradoira,viverá longos diase a obra do Senhor prosperará em suas mãos.

Palavra do Senhor.


SALMO RESPONSORIAL Salmo 21, 7-8.15.17-18a.22-23

Refrão: Trespassaram as minhas mãos e os meus pés,posso contar todos os meus ossos.

Eu sou um verme e não um homem,o opróbrio dos homens e o desprezo da plebe.
Todos os que me vêem escarnecem de mim,estendem os lábios e meneiam a cabeça.
Sou como água derramada,desconjuntam-se todos os meus ossos.
O meu coração tornou-se como cerae derreteu-se dentro do meu peito.


Matilhas de cães me rodearam,cercou-me um bando de malfeitores.
Trespassaram as minhas mãos e os os meus pés,posso contar todos os meus ossos.
Salvai-me das fauces do leãoe dos chifres dos búfalos livrai este infeliz.
Hei-de falar do vosso nome aos meus irmãos,
hei-de louvar-Vos no meio da assembleia.


EVANGELHO Jo 19, 28-37


«Hão-de olhar para Aquele que trespassaram»

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João

Naquele tempo,sabendo que tudo estava consumadoe para que se cumprisse a Escritura,Jesus disse:«Tenho sede».Estava ali um vaso cheio de vinagre.Prenderam a uma vara uma esponja embebida em vinagree levaram-Lhe à boca.Quando Jesus tomou o vinagre, exclamou:«Tudo está consumado».E, inclinando a cabeça, expirou.Por ser a Preparação da Páscoa,e para que os corpos não ficassem na cruz durante o sábado– era um grande dia aquele sábado –os judeus pediram a Pilatosque se lhes quebrassem as pernas e fossem retirados.Os soldados vieram e quebraram as pernas ao primeiro,depois ao outro que tinha sido crucificado com ele.Ao chegarem a Jesus, vendo-O já morto,não Lhe quebraram as pernas,mas um dos soldados trespassou-Lhe o lado com uma lança,e logo saiu sangue e água.Aquele que viu é que dá testemunhoe o seu testemunho é verdadeiro.Ele sabe que diz a verdade,para que também vós acrediteis.Assim aconteceu para se cumprir a Escritura, que diz:«Nenhum osso lhe será quebrado».Diz ainda outra passagem da Escritura:«Hão-de olhar para Aquele que trespassaram».

Palavra da salvação

As Chagas de Cristo e a História de Portugal




Entre os factos históricos dignos de menção pelo que respeita às lutas contra os mouros, merece referência especial o Fossado de Ladera em 1139 e, no mesmo ano, o realce particular dado pela História, entremeada com a lenda, à Batalha de Ourique, travada em 25 de Julho. São unânimes, os Cronicões, em referenciar esta batalha, pelo que, o facto histórico com a mesma relacionado, não oferece dúvidas.
O Livro da Noa de Santa Cruz, de Coimbra, o Crónicon Lamecense e outros, relatam que, num lugar chamado Haulic ou Oric ou Ouric, se travou uma batalha entre portugueses comandados por D. Afonso Henriques e um exército de mouros comandados por Ismar ou Esmar ou Examare e mais quatro reis, tendo sido desbaratados os infiéis com graves perdas, depois de Jesus Cristo crucificado ter milagrosamente aparecido no Céu a abençoar os portugueses.
No século XVII, Fr. Bernardo de Brito na crónica de Cister, relata o milagre sob a forma de juramento feito pelo rei, mas o documento em que se fundamenta é manifestamente falso o que, como é evidente, não invalida nem confirma o milagre.
O que, porém, é incontroverso, é que, a partir de 1139, D. Afonso Henriques se intitula Rei de Portugal, como igualmente é certo ter sido após a Batalha de Ourique que o rei modificou as suas armas.
Sob este ponto, o Crónicon de Santa Cruz diz:“
por memoria daquelle boo aquecimento que lhe Deus dera pôs no seu pendam cinquo escudos por aquelles cinquo reis e pose-os em cruz por membrança da cruz de Nosso Senhor Ieshu Christo e pôs em cada um XXX dinheiros por memoria daquelles XXX dinheiros por que ludas vendeo Yeshu Christo”.
Camões, nos Lusíadas, referindo-se ao Milagre de Ourique, diz nas estâncias 53 e 54 do Canto III:


Aqui pinta no branco escudo ufano,Que agora esta vitória certifica,Cinco escudos azuis esclarecidos,Em sinal destes cinco reis vencidos,E nestes cinco escudos pinta os trintaDinheiros por que Deus fora vendido,Escrevendo a memória em vária tinta,Daquele de quem foi favorecido,Em cada um dos cinco, cinco pinta,Porque assim fica o número cumpridoContando duas vezes o do meioDos cinco azuis que em cruz pintando veio.


A investigação histórica mostra que, em sinais rodados de D. Afonso Henriques, se encontram os escudetes em número variável, dispostos em cruz, com cinco besantes de prata em cada escudete e, em selos autenticando cartas de confirmação passadas pelos nossos primeiros reis, aparecem igualmente os cinco escudetes dispostos em cruz, umas vezes sem indicação de besantes e outras com um número exagerado deles.
Também os escudetes de azul se apresentam carregados com número variável de besantes, umas vezes 10, outras 11 e outras ainda 15 na configuração do escudo real, configuração que se mantém até ao reinado de D. Sancho II.
Segundo outras versões, os cinco escudetes representariam não os cinco reis mouros mas as cinco chagas de Cristo e segundo outros os cinco ferimentos que o rei D. Afonso Henriques recebeu na Batalaha de Ourique e, pelo que respeita aos besantes de prata, há quem queira ver na sua representação no escudo a afirmação do direito de cunhar a moeda, que D. Afonso Henriques considerou como pertencendo-lhe a partir do momento em que passou a intitular-se Rei.
A versão dos Cinco Chagas de Cristo é mencionada nos Lusíadas na estância 7 do Canto I:


Vede-o no vosso escudo, que presenteVos amostra a vitória já passada,Na qual vos deu por armas e deixouAs que Ele para si na Cruz tomou.


Em qualquer hipótese, o que não oferece dúvidas é que a Primeira Bandeira das Quinas foi usada desde 1139 até ao reinado de D. Sancho II e era representada por cinco escudetes de azul em campo de preta, escudetes estes dispostos em cruz e com os escudetes laterais de pontas viradas para o centro, estando cada escudete carregado com um número variável de besantes de prata, mas predominando o número de 11 besantes em cada escudete.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Que mais podia...



Que mais podia Eu fazer por ti?
Plantei-te como vinha formosa
e esconlhida e tu fostes para Mim
uma fonte de amargura;
quisestes matar-me a sede
com vinagre e com uma lança
atravessastes o lado do teu Salvador.

Descimento da Cruz - Córdoba




















quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Semana Santa no Paraty






Ainda hoje Paraty mantém muitas manifestações tradicionais como nos séculos XVII e XVIII, algumas foram adaptadas, como é o caso da "Procissão do Encontro" que antes era realizada uma semana antes da Sexta-feira Santa e hoje acontece na própria sexta-feira.
Apesar da extinção das irmandades que aqui existiam, no calendário abaixo você pode conferir todas as procissões e celebrações que até hoje são preservadas pela paróquia e pelo povo paratiense - maior guardião da sua própria cultura.
Vale ressaltar o trabalho do paratiense, museólogo e arquiteto Júlio Cesar Dantas, responsável pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) em Paraty. Através de uma monografia feita por ele, o IPHAN vem recuperando os seis Passos da Paixão existentes no Centro Histórico. Os Passos são como portas embutidas nas paredes dos sobrados e casas, neles estão representados os principais momentos da Paixão de Cristo como o horto das oliveiras, a prisão, a coroação de espinhos, Jesus na varanda de Pilatos, com a cruz nas costas, a crucificação e o último, representa o calvário e fica no interior da Igreja Matriz.
Estes monumentos haviam sido demolidos em 1922 por estarem em péssimo estado de conservação, e muitos deles haviam sido substituídos por portas que levavam ao interior de casas. Foi preciso um estudo profundo sobre a localização correta dos Passos para sua reconstituição. Algumas das portas originais foram encontradas nas igrejas da cidade e outras foram confeccionadas por marceneiros experientes com o acompanhamento técnico do IPHAN.
Graças a trabalhos como esse a história de Paraty não se perdeu no tempo e ainda hoje revive tradições dos anos de 1600. Os Passos vieram da tradição de Via-Crucis existente em Portugal, ainda no período colonial, quando diversos Passos da Paixão foram construídos em cidades brasileiras como Tiradentes, São João del Rei, Ouro Preto e Congonhas do Campo.

As preparações da Semana Santa nos séculos XVII e XVIII
As celebrações da Semana Santa em Paraty começavam na quarta-feira de cinzas com Via-Sacra. À partir de quarta-feira eram colocados nos altares véus ou panos e no Domingo da Paixão (uma semana antes do Domingo de Ramos), os panos eram fechados em sinal de luto.
Na Sexta-feira da Paixão acontecia a Procissão do Encontro - quando as imagens de Cristo e de Nossa Senhora das Dores se encontravam. Depois o Cristo crucificado era levado para a igreja onde ficava junto ao Passo que remonta o calvário (lendo o texto a seguir você entenderá melhor). A figura do Centurião participava desta Procissão assim como da do Fogaréu e do Enterro. O personagem seguia a frente anunciando o cortejo.
Somente na Sexta-feira Santa é que o Cristo era retirado da cruz e colocado em um esquife. Uma outra cerimônia ligada a Semana Santa e que também antecedia a celebração é o "Setenário de Nossa Senhora das Dores", que acontecia todas as noites na Capelinha das Dores e culminava com a coroação de Nossa Senhora no Domingo da Ressurreição.

Domingo de Ramos
No Domingo de Ramos na Igreja da Matriz era realizado o "Ofício de Ramos" com procissão e missa em seguida. Uma procissão saía da Matriz e voltava encontrando a porta trancada propositalmente. Coroinhas e cantores - que estavam fora da igreja - entoavam o "Gloria et honor a Cristo Redentor" e o clero - que estava no interior - respondia de volta.
Batia-se então 3 vezes na porta com a ponta da cruz e nesse momento a porta da igreja se abria.
A igreja fechada representava o céu, no qual não entraria ninguém por causa do pecado de Adão e Eva, mas pela cruz elas eram abertas. Esta procissão evocava Jesus entrando em Jerusalém como triunfador.

Quarta-feira Santa
Nesse dia começava o luto da igreja, quando foi proferida a sentença de morte à Jesus Cristo. Na época a igreja realizava o "Ofício das Trevas". A cerimônia acontecia com as luzes apagadas e com 15 velas acesas sobre um candelabro triangular e aos poucos as chamas eram apagadas.
Alguns dizem que o apagar das velas significava a morte lenta de Jesus. Depois da cerimônia era comum se fechar o livro com um estrépito ao som das matracas. Cantavam-se lamentações do Profeta Jeremias e no final rezava-se o Miserere.

Quinta-feira Santa
Uma missa matinal com comunhão era celebrada. Era exposto o Santíssimo Sacramento. Às 16:00hs realizava-se a cerimônia do Lavapés, quando o padre lavava os pés de doze presentes, na tentativa de remontar a cena de Cristo lavando os pés dos apóstolos durante a última ceia e simbolizando a sua humildade.
Depois o Santíssimo era levado para um altar preparado especialmente para este fim, onde tinha início a adoração, que continuava até o dia seguinte.
Deste dia em diante durante a Semana Santa, não se tocam mais os sinos e campainhas - que eram substituídos por matracas - em sinal de tristeza e luto.
Durante a noite acontecia a Procissão da Prisão, mais conhecida como Procissão do Fogaréu por causa do grande número de archotes e velas que as pessoas carregavam. Esta procissão passava por todas as igrejas entrando pela porta lateral e saindo pela porta da frente e simbolizava um pedido de desculpas pelas indignidades cometidas.

Sexta- feira Santa
Nesse dia pela manhã era realizada a Paixão , adoração da cruz e missa dos presantificados. Às 21:00hs acontecia o Descendimento da Cruz. A imagem do senhor crucificado que era guardada na igreja uma semana antes - ao final da Procissão do Encontro - na sexta-feira santa era colocada em um esquife pela irmandade do Santíssimo Sacramento.
Iniciava-se então a Procissão do Nosso Senhor Morto - uma cerimônia com forte cunho teatral e emocional, típica dos séculos XVII e XVIII. Dela participavam personagens vestidos a caráter como Nossa Senhora, Maria Madalena, Samaritana, Verônica, representada por um anjo e São João.
Nela o caixão era carregado pelos irmãos do Santíssimo Sacramento sob o pálio, seguido pela imagem de Nossa Senhora da Soledade. Esta procissão fazia paradas diante dos seis Passos da Paixão existentes nas ruas do Centro Histórico - para exposição do santo sudário - e depois se dirigia para a Igreja Matriz onde está o último Passo.

Sábado de Aleluia
No sábado de manhã a igreja amanhecia com os altares descobertos e era realizada a Benção do Fogo Novo, da Pia Batismal e Círio Pascal. A Benção Pascal representava Jesus que acabava de sair do túmulo. O Círio representava o Cristo glorioso e vencedor da morte. Na cerimônia da Pia Batismal era celebrada a missa e cantada a ladainha. A tocata da Banda Santa Cecília no Sábado de Aleluia também é uma antiga tradição dos paratienses que esteve esquecida nos últimos 30 anos.

Domingo de Ressureição
Às 5:00hs da manhã saía a Procissão da Ressureição e depois era celebrada a missa solene. A Semana Santa em Paraty acabava com a coroação de Nossa Senhora das Dores.
Desta celebração participavam a Banda e Coral. Era costume também a tradicional malhação do Judas, que era artisticamente confeccionado e colocado em locais estratégicos da cidade, quando descoberto era malhado pelas ruas, com grande diversão das crianças e adultos.
A Semana Santa em Paraty era encerrada com a coroação de Nossa Senhora das Dores. Esta cerimônia acontecia com toda pompa e brilhantismo. Depois no adro da Igreja de Nossa Senhora das Dores era realizado um leilão de prendas, acompanhado da Banda.

Texto: Secretaria Municipal de Turismo/ fotos: Lia Capovilla

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Meditação para a Semana Santa: o mistério da lança do soldado

Esta é a Semana Maior, a semana de todas as semanas! Na memória interiorizada no Coração da Igreja, celebramos e acompanhamos em tantas representações, as cenas principais e os passos do Senhor na sua Paixão!Esta memória histórica estava (e continua a estar, mesmo se com outras formas, certamente) na espiritualidade popular. Recordo-me dos tempos da minha infância!... Durante a Quaresma, eram os ranchos dos romeiros a passarem no caminho ou sentindo-os de longe na cantilena da recitação do terço enquanto atravessavam os povoados. Na Semana Santa quase todos os dias, à noite, o meu Pai, que mal sabia ler e nunca tinha estudado teologia, mas fruto do que escutava das pregações populares na Igreja, explicava-me que passos da paixão naquele dia se recordavam. E um dia disse-me, quando guardava as folhas de espadana, interrompendo assim uma corda iniciada: "agora não podemos fazer cordas, porque foi neste tempo que os judeus prepararam as cordas com que prenderam Nosso Senhor!..."Nas meditações para esta semana, escritas por João do Coração de Jesus, somos convidados em cada dia a acompanhar o Senhor passo a passo: na segunda feira, ele medita sobre a condenação de Jesus à morte; na terça-feira, a meditação fixa-se no caminho da Calvário; na quarta feira, medita sobre as palavras de Jesus na cruz. Na quinta feira, como é evidente, é a meditação sobre a última ceia, na qual João do Coração de Jesus se fixa sobretudo na cena na qual o discípulo amado, S. João, se abandona à ternura do Coração de Jesus, repousando a cabeça sobre o seu peito!... Na sexta feira santa, é o mistério da lança que trespassa o peito do Senhor, mistério maior e central de todo o mistério da Paixão e, no sábado santo, é a meditação no luto de Maria e dos apóstolos e a provação de Madalena.Neste breve apontamento, gostaria de chamar a atenção para a meditação de Sexta Feira Santa sobre a lança do soldado que trespassa, que abre o Coração de Cristo.Este é talvez o tema por excelência da mística e da espiritualidade cristológica de João do Coração de Jesus. No seguimento do texto evangélico, ele vê neste mistério ou neste momento do grande mistério, a revelação mais impressionante do amor do Coração de Cristo, que se abre para em si acolher todo aquele que o contemplar, com o olhar transfigurado pela fé. Já na Coroa de Amor sobre a Paixão dedica uma muito profunda meditação a esta cena da Lança que abre o Coração de Jesus já morto. E a este propósito regista dois pontos essenciais. Em primeiro lugar, que o soldado que pegou na lança era cego!... E por isso, a lança não foi conduzida por ele, mas sim pelos anjos que levaram a lança até ao lado de Cristo, e foi assim que ela abriu o peito do Redentor, abriu o caminho para o divino Coração, do qual saiu sangue e água, os Sacramentos e a Igreja. Este soldado era Longino, diz a tradição, que a partir daquele momento passou a ver. S. Gregório de Nissa, numa das suas cartas, recorda que a Capadócia, sua terra natal, fora evangelizada por Longino... E talvez assim se compreenda o porquê da intensidade mística e contemplativa da teologia dos Padres Capadócios! O outro ponto que refere João do Coração de Jesus na sua meditação, é a resposta a esta pergunta: porque é que os soldados decidiram abrir o lado do Senhor com uma lança, se Ele já estava morto? Porque se tratava da revelação de um grande mistério: mostrar que o amor é mais forte do que a morte! Deste Coração que já não pulsa brotam os rios de água viva, e quem para Ele olhar será salvo. A morte de Jesus na Cruz foi por excesso de amor! Foi um êxtase de amor, porque pode de amor morrer-se!..., para dar a Vida.Já na perspectiva do Evangelho de S. João, já na sua recepção na teologia mística desde a patrística até ao séc. XIX, - o século da grande devoção ao Coração de Jesus, essa devoção 'revelada' nos últimos tempos, diz João do Coração de Jesus, para responder às heresias do tempo, o rigorismo jansenista e a indiferença religiosa do liberalismo, - este momento da Paixão é o ponto culminante de toda a história da revelação, a Hora da manifestação da glória, da divina majestade do AMOR levado até ao fim. O Coração ferido de Cristo é a fonte e a expressão, o sinal simbólico - sacramental do divino Amor incarnado! Que a Igreja, representada em Maria e no discípulo amado, em silêncio contempla e acolhe!


José Jacinto Ferreira de Farias, scj

Fonte Ecclesia