sábado, 7 de fevereiro de 2009

As Chagas de Cristo e a História de Portugal




Entre os factos históricos dignos de menção pelo que respeita às lutas contra os mouros, merece referência especial o Fossado de Ladera em 1139 e, no mesmo ano, o realce particular dado pela História, entremeada com a lenda, à Batalha de Ourique, travada em 25 de Julho. São unânimes, os Cronicões, em referenciar esta batalha, pelo que, o facto histórico com a mesma relacionado, não oferece dúvidas.
O Livro da Noa de Santa Cruz, de Coimbra, o Crónicon Lamecense e outros, relatam que, num lugar chamado Haulic ou Oric ou Ouric, se travou uma batalha entre portugueses comandados por D. Afonso Henriques e um exército de mouros comandados por Ismar ou Esmar ou Examare e mais quatro reis, tendo sido desbaratados os infiéis com graves perdas, depois de Jesus Cristo crucificado ter milagrosamente aparecido no Céu a abençoar os portugueses.
No século XVII, Fr. Bernardo de Brito na crónica de Cister, relata o milagre sob a forma de juramento feito pelo rei, mas o documento em que se fundamenta é manifestamente falso o que, como é evidente, não invalida nem confirma o milagre.
O que, porém, é incontroverso, é que, a partir de 1139, D. Afonso Henriques se intitula Rei de Portugal, como igualmente é certo ter sido após a Batalha de Ourique que o rei modificou as suas armas.
Sob este ponto, o Crónicon de Santa Cruz diz:“
por memoria daquelle boo aquecimento que lhe Deus dera pôs no seu pendam cinquo escudos por aquelles cinquo reis e pose-os em cruz por membrança da cruz de Nosso Senhor Ieshu Christo e pôs em cada um XXX dinheiros por memoria daquelles XXX dinheiros por que ludas vendeo Yeshu Christo”.
Camões, nos Lusíadas, referindo-se ao Milagre de Ourique, diz nas estâncias 53 e 54 do Canto III:


Aqui pinta no branco escudo ufano,Que agora esta vitória certifica,Cinco escudos azuis esclarecidos,Em sinal destes cinco reis vencidos,E nestes cinco escudos pinta os trintaDinheiros por que Deus fora vendido,Escrevendo a memória em vária tinta,Daquele de quem foi favorecido,Em cada um dos cinco, cinco pinta,Porque assim fica o número cumpridoContando duas vezes o do meioDos cinco azuis que em cruz pintando veio.


A investigação histórica mostra que, em sinais rodados de D. Afonso Henriques, se encontram os escudetes em número variável, dispostos em cruz, com cinco besantes de prata em cada escudete e, em selos autenticando cartas de confirmação passadas pelos nossos primeiros reis, aparecem igualmente os cinco escudetes dispostos em cruz, umas vezes sem indicação de besantes e outras com um número exagerado deles.
Também os escudetes de azul se apresentam carregados com número variável de besantes, umas vezes 10, outras 11 e outras ainda 15 na configuração do escudo real, configuração que se mantém até ao reinado de D. Sancho II.
Segundo outras versões, os cinco escudetes representariam não os cinco reis mouros mas as cinco chagas de Cristo e segundo outros os cinco ferimentos que o rei D. Afonso Henriques recebeu na Batalaha de Ourique e, pelo que respeita aos besantes de prata, há quem queira ver na sua representação no escudo a afirmação do direito de cunhar a moeda, que D. Afonso Henriques considerou como pertencendo-lhe a partir do momento em que passou a intitular-se Rei.
A versão dos Cinco Chagas de Cristo é mencionada nos Lusíadas na estância 7 do Canto I:


Vede-o no vosso escudo, que presenteVos amostra a vitória já passada,Na qual vos deu por armas e deixouAs que Ele para si na Cruz tomou.


Em qualquer hipótese, o que não oferece dúvidas é que a Primeira Bandeira das Quinas foi usada desde 1139 até ao reinado de D. Sancho II e era representada por cinco escudetes de azul em campo de preta, escudetes estes dispostos em cruz e com os escudetes laterais de pontas viradas para o centro, estando cada escudete carregado com um número variável de besantes de prata, mas predominando o número de 11 besantes em cada escudete.

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