quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Paróquia de São Roque, no Funchal, realiza Procissão dos Passos

No primeiro domingo da Quaresma, este ano no dia 13 de Março, realiza-se a Procissão dos Passos, na paróquia de São Roque, antecedida da celebração da Eucaristia às 17 horas.
Em todos os domingos da Quaresma vão realizar-se idênticas procissões em diversas paróquias da Diocese do Funchal, como forma de penitência e oração naquele tempo tão importante.


Sílvio Mendes

in http://www.jornaldamadeira.pt/not2008.php?Seccao=7&id=176280&sup=0&sdata=

Jesus do Amor Despojado - Cádiz









Senhor Jesus, despojado de tuas vestes, a contemplar o mistério do teu amor até ao fim, pedimos-te que acendas em nossos corações o teu amor, que despojados de nós mesmos possamos entregamo-nos aos nossos irmãos, com mais liberdade e generosamente.

Ajude-nos a mostrar-nos disponíveis e fortalecer-nos para que possamos trazer o teu rosto de compaixão e misericórdia para com aqueles que, injustamente neste mundo têm sido ofendidos na sua dignidade, as crianças e jovens, os homens e mulheres abusadas e exploradas, sozinhos e abandonados, os necessitados, por diferentes razões, estão excluídos da nossa sociedade, das quais fazemos parte.

Tu que és o Caminho, a Verdade e a Vida, levam-nos ao caminho da verdadeira liberdade. Que o Teu Espírito nos dê sabedoria para saber melhor ama-te mais, reconhece-te e amar-te nos irmãos. Vós que viveis e reinais para sempre. Ámen.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

MENSAGEM DE SUA SANTIDADE PAPA BENTO XVI PARA A QUARESMA DE 2011




«Sepultados com Ele no baptismo,
foi também com Ele que ressuscitastes
»
(cf. Cl 2, 12)



Amados irmãos e irmãs!

A Quaresma, que nos conduz à celebração da Santa Páscoa, é para a Igreja um tempo litúrgico muito precioso e importante, em vista do qual me sinto feliz por dirigir uma palavra específica para que seja vivido com o devido empenho. Enquanto olha para o encontro definitivo com o seu Esposo na Páscoa eterna, a Comunidade eclesial, assídua na oração e na caridade laboriosa, intensifica o seu caminho de purificação no espírito, para haurir com mais abundância do Mistério da redenção a vida nova em Cristo Senhor (cf. Prefácio I de Quaresma).

1. Esta mesma vida já nos foi transmitida no dia do nosso Baptismo, quando, «tendo-nos tornado partícipes da morte e ressurreição de Cristo» iniciou para nós «a aventura jubilosa e exaltante do discípulo» (Homilia na Festa do Baptismo do Senhor, 10 de Janeiro de 2010). São Paulo, nas suas Cartas, insiste repetidas vezes sobre a singular comunhão com o Filho de Deus realizada neste lavacro. O facto que na maioria dos casos o Baptismo se recebe quando somos crianças põe em evidência que se trata de um dom de Deus: ninguém merece a vida eterna com as próprias forças. A misericórdia de Deus, que lava do pecado e permite viver na própria existência «os mesmos sentimentos de Jesus Cristo» (Fl 2, 5), é comunicada gratuitamente ao homem.

O Apóstolo dos gentios, na Carta aos Filipenses, expressa o sentido da transformação que se realiza com a participação na morte e ressurreição de Cristo, indicando a meta: que assim eu possa «conhecê-Lo, a Ele, à força da sua Ressurreição e à comunhão nos Seus sofrimentos, configurando-me à Sua morte, para ver se posso chegar à ressurreição dos mortos» (Fl 3, 1011). O Baptismo, portanto, não é um rito do passado, mas o encontro com Cristo que informa toda a existência do baptizado, doa-lhe a vida divina e chama-o a uma conversão sincera, iniciada e apoiada pela Graça, que o leve a alcançar a estatura adulta de Cristo.

Um vínculo particular liga o Baptismo com a Quaresma como momento favorável para experimentar a Graça que salva. Os Padres do Concílio Vaticano II convidaram todos os Pastores da Igreja a utilizar «mais abundantemente os elementos baptismais próprios da liturgia quaresmal» (Const. Sacrosanctum Concilium, 109). De facto, desde sempre a Igreja associa a Vigília Pascal à celebração do Baptismo: neste Sacramento realiza-se aquele grande mistério pelo qual o homem morre para o pecado, é tornado partícipe da vida nova em Cristo Ressuscitado e recebe o mesmo Espírito de Deus que ressuscitou Jesus dos mortos (cf. Rm 8, 11). Este dom gratuito deve ser reavivado sempre em cada um de nós e a Quaresma oferece-nos um percurso análogo ao catecumenato, que para os cristãos da Igreja antiga, assim como também para os catecúmenos de hoje, é uma escola insubstituível de fé e de vida cristã: deveras eles vivem o Baptismo como um acto decisivo para toda a sua existência.

2. Para empreender seriamente o caminho rumo à Páscoa e nos prepararmos para celebrar a Ressurreição do Senhor – a festa mais jubilosa e solene de todo o Ano litúrgico – o que pode haver de mais adequado do que deixar-nos conduzir pela Palavra de Deus? Por isso a Igreja, nos textos evangélicos dos domingos de Quaresma, guia-nos para um encontro particularmente intenso com o Senhor, fazendo-nos repercorrer as etapas do caminho da iniciação cristã: para os catecúmenos, na perspectiva de receber o Sacramento do renascimento, para quem é baptizado, em vista de novos e decisivos passos no seguimento de Cristo e na doação total a Ele.

O primeiro domingo do itinerário quaresmal evidencia a nossa condição do homens nesta terra. O combate vitorioso contra as tentações, que dá início à missão de Jesus, é um convite a tomar consciência da própria fragilidade para acolher a Graça que liberta do pecado e infunde nova força em Cristo, caminho, verdade e vida (cf. Ordo Initiationis Christianae Adultorum, n. 25). É uma clara chamada a recordar como a fé cristã implica, a exemplo de Jesus e em união com Ele, uma luta «contra os dominadores deste mundo tenebroso» (Ef 6, 12), no qual o diabo é activo e não se cansa, nem sequer hoje, de tentar o homem que deseja aproximar-se do Senhor: Cristo disso sai vitorioso, para abrir também o nosso coração à esperança e guiar-nos na vitória às seduções do mal.

O Evangelho da Transfiguração do Senhor põe diante dos nossos olhos a glória de Cristo, que antecipa a ressurreição e que anuncia a divinização do homem. A comunidade cristã toma consciência de ser conduzida, como os apóstolos Pedro, Tiago e João, «em particular, a um alto monte» (Mt 17, 1), para acolher de novo em Cristo, como filhos no Filho, o dom da Graça deDeus: «Este é o Meu Filho muito amado: n’Ele pus todo o Meu enlevo. Escutai-O» (v. 5). É o convite a distanciar-se dos boatos da vida quotidiana para se imergir na presença de Deus: Ele quer transmitir-nos, todos os dias, uma Palavra que penetra nas profundezas do nosso espírito, onde discerne o bem e o mal (cf. Hb 4, 12) e reforça a vontade de seguir o Senhor.

O pedido de Jesus à Samaritana: «Dá-Me de beber» (Jo 4, 7), que é proposto na liturgia do terceiro domingo, exprime a paixão de Deus por todos os homens e quer suscitar no nosso coração o desejo do dom da «água a jorrar para a vida eterna» (v. 14): é o dom do espírito Santo, que faz dos cristãos «verdadeiros adoradores» capazes de rezar ao Pai «em espírito e verdade» (v. 23). Só esta água pode extinguir a nossa sede do bem, da verdade e da beleza! Só esta água, que nos foi doada pelo Filho, irriga os desertos da alma inquieta e insatisfeita, «enquanto não repousar em Deus», segundo as célebres palavras de Santo Agostinho.

O domingo do cego de nascença apresenta Cristo como luz do mundo. O Evangelho interpela cada um de nós: «Tu crês no Filho do Homem?». «Creio, Senhor» (Jo 9, 35.38), afirma com alegria o cego de nascença, fazendo-se voz de todos os crentes. O milagre da cura é o sinal que Cristo, juntamente com a vista, quer abrir o nosso olhar interior, para que a nossa fé se torne cada vez mais profunda e possamos reconhecer n’Ele o nosso único Salvador. Ele ilumina todas as obscuridades da vida e leva o homem a viver como «filho da luz».

Quando, no quinto domingo, nos é proclamada a ressurreição de Lázaro, somos postos diante do último mistério da nossa existência: «Eu sou a ressurreição e a vida... Crês tu isto?» (Jo 11, 25-26). Para a comunidade cristã é o momento de depor com sinceridade, juntamente com Marta, toda a esperança em Jesus de Nazaré: «Sim, Senhor, creio que Tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo» (v. 27). A comunhão com Cristo nesta vida prepara-nos para superar o limite da morte, para viver sem fim n’Ele. A fé na ressurreição dos mortos e a esperança da vida eterna abrem o nosso olhar para o sentido derradeiro da nossa existência: Deus criou o homem para a ressurreição e para a vida, e esta verdade doa a dimensão autêntica e definitiva à história dos homens, à sua existência pessoal e ao seu viver social, à cultura, à política, à economia. Privado da luz da fé todo o universo acaba por se fechar num sepulcro sem futuro, sem esperança.

O percurso quaresmal encontra o seu cumprimento no Tríduo Pascal, particularmente na Grande Vigília na Noite Santa: renovando as promessas baptismais, reafirmamos que Cristo é o Senhor da nossa vida, daquela vida que Deus nos comunicou quando renascemos «da água e do Espírito Santo», e reconfirmamos o nosso firme compromisso em corresponder à acção da Graça para sermos seus discípulos.

3. O nosso imergir-nos na morte e ressurreição de Cristo através do Sacramento do Baptismo, estimula-nos todos os dias a libertar o nosso coração das coisas materiais, de um vínculo egoísta com a «terra», que nos empobrece e nos impede de estar disponíveis e abertos a Deus e ao próximo. Em Cristo, Deus revelou-se como Amor (cf 1 Jo 4, 7-10). A Cruz de Cristo, a «palavra da Cruz» manifesta o poder salvífico de Deus (cf. 1 Cor 1, 18), que se doa para elevar o homem e dar-lhe a salvação: amor na sua forma mais radical (cf. Enc. Deus caritas est, 12). Através das práticas tradicionais do jejum, da esmola e da oração, expressões do empenho de conversão, a Quaresma educa para viver de modo cada vez mais radical o amor de Cristo. O Jejum, que pode ter diversas motivações, adquire para o cristão um significado profundamente religioso: tornando mais pobre a nossa mesa aprendemos a superar o egoísmo para viver na lógica da doação e do amor; suportando as privações de algumas coisas – e não só do supérfluo – aprendemos a desviar o olhar do nosso «eu», para descobrir Alguém ao nosso lado e reconhecer Deus nos rostos de tantos irmãos nossos. Para o cristão o jejum nada tem de intimista, mas abre em maior medida para Deus e para as necessidades dos homens, e faz com que o amor a Deus seja também amor ao próximo (cf. Mc 12, 31).

No nosso caminho encontramo-nos perante a tentação do ter, da avidez do dinheiro, que insidia a primazia de Deus na nossa vida. A cupidez da posse provoca violência, prevaricação e morte: por isso a Igreja, especialmente no tempo quaresmal, convida à prática da esmola, ou seja, à capacidade de partilha. A idolatria dos bens, ao contrário, não só afasta do outro, mas despoja o homem, torna-o infeliz, engana-o, ilude-o sem realizar aquilo que promete, porque coloca as coisas materiais no lugar de Deus, única fonte da vida. Como compreender a bondade paterna de Deus se o coração está cheio de si e dos próprios projectos, com os quais nos iludimos de poder garantir o futuro? A tentação é a de pensar, como o rico da parábola: «Alma, tens muitos bens em depósito para muitos anos...». «Insensato! Nesta mesma noite, pedir-te-ão a tua alma...» (Lc 12, 19-20). A prática da esmola é uma chamada à primazia de Deus e à atenção para com o próximo, para redescobrir o nosso Pai bom e receber a sua misericórdia.

Em todo o período quaresmal, a Igreja oferece-nos com particular abundância a Palavra de Deus. Meditando-a e interiorizando-a para a viver quotidianamente, aprendemos uma forma preciosa e insubstituível de oração, porque a escuta atenta de Deus, que continua a falar ao nosso coração, alimenta o caminho de fé que iniciámos no dia do Baptismo. A oração permitenos também adquirir uma nova concepção do tempo: de facto, sem a perspectiva da eternidade e da transcendência ele cadencia simplesmente os nossos passos rumo a um horizonte que não tem futuro. Ao contrário, na oração encontramos tempo para Deus, para conhecer que «as suas palavras não passarão» (cf. Mc 13, 31), para entrar naquela comunhão íntima com Ele «que ninguém nos poderá tirar» (cf. Jo 16, 22) e que nos abre à esperança que não desilude, à vida eterna.

Em síntese, o itinerário quaresmal, no qual somos convidados a contemplar o Mistério da Cruz, é «fazer-se conformes com a morte de Cristo» (Fl 3, 10), para realizar uma conversão profunda da nossa vida: deixar-se transformar pela acção do Espírito Santo, como São Paulo no caminho de Damasco; orientar com decisão a nossa existência segundo a vontade de Deus; libertar-nos do nosso egoísmo, superando o instinto de domínio sobre os outros e abrindo-nos à caridade de Cristo. O período quaresmal é momento favorável para reconhecer a nossa debilidade, acolher, com uma sincera revisão de vida, a Graça renovadora do Sacramento da Penitência e caminhar com decisão para Cristo.

Queridos irmãos e irmãs, mediante o encontro pessoal com o nosso Redentor e através do jejum, da esmola e da oração, o caminho de conversão rumo à Páscoa leva-nos a redescobrir o nosso Baptismo. Renovemos nesta Quaresma o acolhimento da Graça que Deus nos concedeu naquele momento, para que ilumine e guie todas as nossas acções. Tudo o que o Sacramento significa e realiza, somos chamados a vivê-lo todos os dias num seguimento de Cristo cada vez mais generoso e autêntico. Neste nosso itinerário, confiemo-nos à Virgem Maria, que gerou o Verbo de Deus na fé e na carne, para nos imergir como ela na morte e ressurreição do seu Filho Jesus e ter a vida eterna.

Vaticano, 4 de Novembro de 2010



BENEDICTUS PP. XVI

Semana Santa no Sec. XIX

Dois anos depois depois do nasciemnto do cinema, uma camara filmou estas imagens da Semana Santa de Sevilha em 1898.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Semana Santa é candidata a estatuto de interesse nacional

Pela sua singularidade e importância ímpar no contexto nacional, as Solenidades da Semana Santa de Braga merecem a ‘declaração de interesse turístico’. É nesse sentido que, ainda este ano, vai ser submetida uma candidatura à tutela.


A revelação foi feita pelo presidente da Entidade Regional de Turismo do Porto e Norte de Portugal, Melchior Moreira, no decorrer da apresentação do programa da Semana Santa 2011, sessão que decorreu na sala do cabido da Sé Catedral.

Logo que se realizem as solenidades deste ano, a Turismo do Porto e Norte de Portugal vai criar um gabinete para trabalhar na candidatura que será submetida, ainda este ano, em conjunto com o Cabido da Sé, a Câmara Municipal de Braga e Associação Comercial de Braga.

“Vamos, em conjunto, apresentar uma candidatura ao Turismo de Portugal para que seja emitida a declaração de interesse turístico para as Solenidades da Semana Santa de Braga. É uma honra, uma justiça e uma obrigação da tutela em reconhecer estas festividades como de interesse para o turismo nacional”, sublinhou Melchior Moreira.


Ímpar no contexto nacional

O presidente da Turismo do Porto e Norte de Portugal assume que há muitas festividades religiosas, sobretudo no Norte do país, mas nenhuma com a tradição, o significado e a grandeza da Semana Santa de Braga.
“Nós não temos nenhuma manifestação cultural ou religiosa com estas características no resto do país. Essa singularidade deve ser reconhecida e valorizada”, afirmou Melchior Moreira, realçando que sendo uma festividade religiosa, a Semana Santa de Braga “tem uma abrangência e serve de alavanca em termos da promoção turística dentro daquilo que é o segmento do Turismo Religioso”.

Se conseguir obter por parte da tutela este selo de qualidade que lhe reconhece o interesse para o turismo português, as vantagens são muit as desde logo ao nível da projecção do evento.
“Este é um estatuto que funciona como um selo que atesta o valor diferenciador e acrescido destas solenidades”, realçou Melchior Moreira, realçando que é uma mais-valia em termos de obtenção de apoios para o evento. A obter este estatuto, esta será a primeira declaração de interesse turístico no concelho.


Orçamento idêntico ao do ano passado

Em época de crise, a Comissão da Quaresma e Solenidades da Semana Santa de Braga fez um esforço para não aumentar as despesas inerentes à realização do evento, prevendo-se um orçamento idêntico ao do ano passado.

Segundo o presidente da Comissão, cónego Jorge Coutinho, em 2010 os custos totais da Semana Santa foram de 183.784 euros, dos quais 42.109 mil euros suportados directamente pela Comissão e os restantes pelas entidades que a integram — Cabido da Catedral (15 mil euros), Santa Casa da Misericórdia de Braga (28.880 euros), Irmandade de Santa Cruz (20 mil euros), Câmara de Braga (37.794 euros), Turismo do Porto e Norte (15 mil euros) e Paróquia e Junta de S. Victor (25 mil euros).

“O custo previsto para este ano será semelhante. Houve um esforço de contenção nos gastos sem prejudicar as cerimónias”, vincou o cónego Jorge Coutinho.
Ontem, no decorrer da apresentação do programa da Quaresma e Solenidades da Semana Santa de Braga, o deão do Cabi-do da Sé Catedral de Braga, Pio Alves de Sousa, apelou “às pessoas e às instituições de Braga e da região que possam e queiram ajudar” para que contribuam financeiramente para a realização das celebrações.

Apesar da contenção nos gastos, o programa religioso mantém-se e os actos culturais são ainda mais do que no ano transacto.
Este ano, o programa contempla oito concertos (mais um que em 2010), dez exposições e um espectáculo de ballet.





Marlene Sequeira
CM

in: http://www.semanasantabraga.com/content.asp?startAt=2&categoryID=275&newsID=4956



sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Piedade popular

A religiosidade popular é a fé do povo que se faz vida e cultura. Quando a fé não se faz cultura significa que não foi plenamente acolhida e muito menos pensada e vivida.
Entendida como o modo peculiar do povo viver e manifestar a sua relação com Deus, com a Virgem e com os santos, a nível pessoal como a nível comunitário, a religiosidade popular é uma das mais ricas expressões da inculturação da fé. Seria bom que as novas gerações a cuidassem, a depurassem e a enriquecessem.
Se nas tradições religiosas e nos hábitos culturais não se injecta a vitalidade de uma fé pessoal e de uma experiência religiosa autêntica, bem como uma prática cristã efectiva, na vida privada como na comunitária, então a fé vai-se diluindo em sentimentalismos efémeros e em superstições.
Confesso já me ter emocionado nas ruas de Braga, na Semana Santa. Admito que vivi intensamente as procissões e os sermões nas ruas de Ovar e de Válega ou em S. Pedro de Castelões, em Vale de Cambra, seguindo os «passos» de Cristo a caminho do Calvário, acompanhado de Sua Mãe, Senhora das Dores.
Onde muitos vêem apenas folclore religioso ou promoção turística, como em Braga ou em Óbidos, vejo uma invulgar piedade popular que mobiliza centenas e milhares de pessoas, atraídas pelo sagrado que lhes purifica a consciência, ilumina a razão, lava o coração e acalenta os afectos.
Perderam muito aquelas comunidades cristãs que, tendo acabado com as visitas pascais ou compassos, anunciando de casa em casa a alegria pascal da Ressurreição com uma cruz florida, nada inventaram como alternativa. Perdem muito, noutras ocasiões do ano, aquelas comunidades que retiraram o sagrado às festas religiosas e as deixaram afogar-se em folguedos barulhentos e vazios de sentido.
Dir-se-á que há o risco de se confundir o fundo religioso com as formas da criatividade popular, a oração com o vago sentimento de espiritualidade e a chama da fé com o fogo-de-artifício. Que há também o perigo de que a estética religiosa se traduza apenas em folclore atractivo ou até em mercadoria para o comércio. É verdade. Mas, não se deite fora o bebé com a água do banho. Defenda-se e promova-se a relação entre a arte popular e a fé.
A religiosidade popular em Portugal continua a aproximar muita e boa gente de Deus e da Igreja. Vale a pena evangelizá-la, a partir daquela fome e sede de Deus que o povo simples manifesta e quer satisfazer.


Rui Osório
Fonte: Jornal de Notícias - 30.03.02

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Aldeias da Guarda mantêm vivas tradições típicas desta quadra


Cânticos nocturnos entoados nos pontos altos das localidades e costumes que impedem as mulheres de lavarem a roupa ou de se pentearem na Semana Santa são tradições pascais que se mantêm em muitas aldeias da região da Guarda.

Os cânticos da "Encomendação das Almas" e os "Martírios de Jesus Cristo" são dois dos costumes típicos da Quaresma ainda preservados pelos mais idosos e por algumas associações do concelho da Guarda, com destaque para a aldeia de Marmeleiro.

A "Encomendação das Almas", tradição típica das mulheres, subsiste nas localidades de Aldeia do Bispo, Faia, Quinta de Gonçalo Martins, Marmeleiro, Castanheira, Maçainhas e S. Miguel, entre outras.

Os cânticos são entoados durante a noite, "nos sítios mais altos", explica Júlia Conceição, 83 anos, residente no Marmeleiro, que recorda outros tempos quando a terra tinha "dois coros".

O cântico dos "Martírios", associado aos homens, sobrevive na mesma aldeia, onde é recriado, anualmente, pela perseverança de dois idosos da terra - José Marques Escada, 77 anos, e outro "rapaz" da mesma idade.

É também Escada que mantém viva a tradição do toque da matrácula (instrumento de madeira com argolas de ferro) que na Sexta Feira Santa substitui o sino, que não pode ser tocado, para chamar os fiéis para a adoração da cruz, na igreja matriz.

por António Sá Rodrigues, da agência Lusa

Cantar os Martirios em Verride