Momento priviligiado do ano, em que se juntam as famílias e vêm amigos de fora para passar a Páscoa, a Procissão do Senhor morto percorre as ruas da vila, num silêncio de respeito e na penumbra da noite, apenas entrecortada pela luz discreta que vem das janelas abertas de todas as casas e dos fogaréus que definem o cortejo. Todos os anos se cumpre o ritual. Todos os anos a tradição se recorda e se renova. Não é a morte que se celebra mas a vida. E o Senhor morto, pelas ruas da Chamusca, vem lembrar a quem é crente que, como na Natureza, não vivemos para morrer: morremos para ressuscitar.
MILAGRE DO SENHOR DA MISERICÓRDIA
"No dia 23 de Outubro de 1807 as tropas francesas invadiram a Golegã. A vila saqueada as suas mulheres violadas e uma grande parte das suas casas incendiadas.
Concentrada nos outeiros do Pranto e de São Pedro, a população da Chamusca contemplava, aterrada, estes actos de vandalismo e um pensamento único a dominava: Seguiriam os franceses a margem direita do Tejo na sua ânsia de atingir Lisboa, ou atravessariam o rio para por sua vez, saquearem a Chamusca ? (...)"
Pela manhã a resposta veio clara e evidente, as tropas fracesas tentavam a travessia do rio Tejo em direcção à Chamusca.
Sem capacidade de resistência as gentes da Chamusca refugiaram-se na Igreja do Senhor, onde em uníssono rogaram, SENHOR DEUS MISERICÓRDIA!!! De imediato se fez ouvir o alegre repicar do sino da Ermida da Senhora do Pranto(...)"
"(...) O Tejo enchera repentinamente; a sua corrente era tão forte e caudalosa que algumas das barcas com soldados naufragaram e foram arrastadas pelo caudal.
O MILAGRE tinha-se operado e o Padre Francisco Vaz que procurara refúgio na Ermida, disposto a perder a vida junto do altar onde diarimente sacrificava, fora o único Chamusquense que o presenciara. Por isso avisara o povo com o repicar alegre do sino. Os franceses como represália bombardearam a vila mas ninguém já os temia. A confiança na protecção do SENHOR JESUS DA MISERICÓRDIA era ilimitada. De facto, não houve vitimas, e o único prejuízo material causou-o um dos projecteis, que batendo no cunhal de Felississimo de Assis Saldanha veio estilhaçar, de ricochete, o capitel do pelourinho (...)"
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