«A procissão dos Passos», em referência ao caminho do Calvário percorrido por Jesus Cristo, com a imagem da Senhora das Dores, «não se trata de uma representação qualquer», antes, «ajuda-nos a proclamar e a meditar no mistério do sofrimento e da morte», lembrou ontem D. António Carrilho. O Bispo do Funchal falava na homilia da missa celebrada na igreja do Colégio, após a tradicional «Procissão do Encontro» pelas ruas da nossa cidade, com a participação de centenas de fiéis. Mas, mais do que «contemplar o sofrimento» importa, sobretudo, viver o compromisso da fé em Cristo e «olhar para a vida no mais positivo», com base no episódio da mulher samaritana, relatado no texto do evangelho do 3.º Domingo da Quaresma. «Em todos os tempos podemos ser atormentados pela sede e pela fome», disse a propósito D. António Carrilho. «Cada um sabe de si, Deus sabe de todos», mas o que «vai no nosso íntimo, o que se passa na nossa vida, aquilo que é aspiração, dificuldade, luta, problema, desejo mais profundo em nós», pode ser melhor acolhido «se houver a fé que garante uma esperança forte». «Não podemos ficar na contemplação das lutas, isto é o mais fácil; para quem crê, o mistério do sofrimento é mais uma oportunidade de meditação para a nossa vida de todos os dias», sublinhou o Bispo do Funchal na sua mensagem perante uma igreja totalmente cheia de cristãos, com vários sacerdotes e confrarias. «Sermão» no Largo da Sé lembra encontro A Procissão dos Passos, entre a igreja do Colégio e a Sé, teve o seu momento alto no «encontro» entre as imagens do Senhor e a Senhora das Dores, com o Pe. Marcos Gonçalves, a proferir o habitual «Sermão». «Queremos acompanhar Jesus, compartilhando a sua Paixão na nossa vida, na vida da Igreja, pela vida do mundo e pelo bem da nossa cidade, porque sabemos que é justamente na cruz do Senhor, no amor sem limites, que está a fonte da graça, da liberdade e da salvação», disse então o reitor da igreja do Colégio. Na sua reflexão, afirmou ainda que «condenámos o Senhor com o peso dos nossos pecados; somos nós a cruz de Deus, com os nossos pecados absurdos, as nossas fragilidades e orgulhos». Mas, «contemplando o Senhor com a pesada cruz, temos a certeza que o pecado faz-nos mal, tira-nos a paz e a alegria, separa-nos da vida e faz secar dentro de nós a fonte da liberdade e da dignidade», explicou. Dirigindo-se à Senhora das Dores, o Pe. Marcos pediu que olhasse «pelas mães que choram pelos seus filhos, tantas mães desesperadas que não sabem como educar, como tratar, como fazer crescer os seus filhos, tantas mães que vivem abandonadas». Confrarias, jovens e banda acompanharam andor No percurso entre o Colégio e a Sé (pela Avenida Zarco), e, depois, no regresso ao Colégio (pela Rua dos Ferreiros), integraram-se Confrarias, grupos de Escuteiros e outros jovens diocesanos, e a Banda Distrital do Funchal com uma melodia apropriada ao acontecimento. A orientar a multidão de fiéis também colaboraram elementos da Polícia de Segurança Pública (PSP). Nos espaços vizinhos, ao longo da caminhada processional presidida pelo Bispo do Funchal naquelas artérias, encontravam-se muitas pessoas e turistas que, em sentido de respeito, seguiam com um olhar comovido a imagem no «andor», rodeada de vestes e ornamentos de cor roxa. «É uma procissão que emociona e que acompanho desde muita nova», disse ao Jornal da Madeira Maria Zulmira, 74 anos, natural de São Gonçalo. «Lembro-me ainda muito bem do que os meus pais e antepassados me diziam, que sempre foi uma procissão muito participada, e até com uma caminhada maior, que até passava por outras ruas», lembra. Vera Luza
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