A religiosidade popular é a fé do povo que se faz vida e cultura. Quando a fé não se faz cultura significa que não foi plenamente acolhida e muito menos pensada e vivida.
Entendida como o modo peculiar do povo viver e manifestar a sua relação com Deus, com a Virgem e com os santos, a nível pessoal como a nível comunitário, a religiosidade popular é uma das mais ricas expressões da inculturação da fé. Seria bom que as novas gerações a cuidassem, a depurassem e a enriquecessem.
Se nas tradições religiosas e nos hábitos culturais não se injecta a vitalidade de uma fé pessoal e de uma experiência religiosa autêntica, bem como uma prática cristã efectiva, na vida privada como na comunitária, então a fé vai-se diluindo em sentimentalismos efémeros e em superstições.
Confesso já me ter emocionado nas ruas de Braga, na Semana Santa. Admito que vivi intensamente as procissões e os sermões nas ruas de Ovar e de Válega ou em S. Pedro de Castelões, em Vale de Cambra, seguindo os «passos» de Cristo a caminho do Calvário, acompanhado de Sua Mãe, Senhora das Dores.
Onde muitos vêem apenas folclore religioso ou promoção turística, como em Braga ou em Óbidos, vejo uma invulgar piedade popular que mobiliza centenas e milhares de pessoas, atraídas pelo sagrado que lhes purifica a consciência, ilumina a razão, lava o coração e acalenta os afectos.
Perderam muito aquelas comunidades cristãs que, tendo acabado com as visitas pascais ou compassos, anunciando de casa em casa a alegria pascal da Ressurreição com uma cruz florida, nada inventaram como alternativa. Perdem muito, noutras ocasiões do ano, aquelas comunidades que retiraram o sagrado às festas religiosas e as deixaram afogar-se em folguedos barulhentos e vazios de sentido.
Dir-se-á que há o risco de se confundir o fundo religioso com as formas da criatividade popular, a oração com o vago sentimento de espiritualidade e a chama da fé com o fogo-de-artifício. Que há também o perigo de que a estética religiosa se traduza apenas em folclore atractivo ou até em mercadoria para o comércio. É verdade. Mas, não se deite fora o bebé com a água do banho. Defenda-se e promova-se a relação entre a arte popular e a fé.
A religiosidade popular em Portugal continua a aproximar muita e boa gente de Deus e da Igreja. Vale a pena evangelizá-la, a partir daquela fome e sede de Deus que o povo simples manifesta e quer satisfazer.
Rui Osório
Fonte: Jornal de Notícias - 30.03.02
Entendida como o modo peculiar do povo viver e manifestar a sua relação com Deus, com a Virgem e com os santos, a nível pessoal como a nível comunitário, a religiosidade popular é uma das mais ricas expressões da inculturação da fé. Seria bom que as novas gerações a cuidassem, a depurassem e a enriquecessem.
Se nas tradições religiosas e nos hábitos culturais não se injecta a vitalidade de uma fé pessoal e de uma experiência religiosa autêntica, bem como uma prática cristã efectiva, na vida privada como na comunitária, então a fé vai-se diluindo em sentimentalismos efémeros e em superstições.
Confesso já me ter emocionado nas ruas de Braga, na Semana Santa. Admito que vivi intensamente as procissões e os sermões nas ruas de Ovar e de Válega ou em S. Pedro de Castelões, em Vale de Cambra, seguindo os «passos» de Cristo a caminho do Calvário, acompanhado de Sua Mãe, Senhora das Dores.
Onde muitos vêem apenas folclore religioso ou promoção turística, como em Braga ou em Óbidos, vejo uma invulgar piedade popular que mobiliza centenas e milhares de pessoas, atraídas pelo sagrado que lhes purifica a consciência, ilumina a razão, lava o coração e acalenta os afectos.
Perderam muito aquelas comunidades cristãs que, tendo acabado com as visitas pascais ou compassos, anunciando de casa em casa a alegria pascal da Ressurreição com uma cruz florida, nada inventaram como alternativa. Perdem muito, noutras ocasiões do ano, aquelas comunidades que retiraram o sagrado às festas religiosas e as deixaram afogar-se em folguedos barulhentos e vazios de sentido.
Dir-se-á que há o risco de se confundir o fundo religioso com as formas da criatividade popular, a oração com o vago sentimento de espiritualidade e a chama da fé com o fogo-de-artifício. Que há também o perigo de que a estética religiosa se traduza apenas em folclore atractivo ou até em mercadoria para o comércio. É verdade. Mas, não se deite fora o bebé com a água do banho. Defenda-se e promova-se a relação entre a arte popular e a fé.
A religiosidade popular em Portugal continua a aproximar muita e boa gente de Deus e da Igreja. Vale a pena evangelizá-la, a partir daquela fome e sede de Deus que o povo simples manifesta e quer satisfazer.
Rui Osório
Fonte: Jornal de Notícias - 30.03.02
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